quarta-feira, 22 de abril de 2009

OPINIÃO 95-96 - Só os Amaricanos?!!!!


Sr Director (PÚBLICO):

No número do passado dia 28/3, vinha nesta secção uma carta com o título “Angola, a UNITA e os USA”, cujo conteúdo me merece algumas considerações. O sr Bernardino Machado, que o subscreve, parece ter um parti pris contra os camones de além Atlântico que, aparentemente, não o deixa ver claramente algumas situações. Concretizando:

1. As minas que em Angola ceifaram pernas e vidas (angolanas e portuguesas) não foram só colocadas pela Unita. Antes do 25 de Abril, os destacamentos portugueses isolados no mato eram protegidos, muitas vezes por zonas minadas. Por seu lado, o MPLA e FNLA, para além da UNITA armadilhavam os itinerários por onde as nossas tropas circulavam. Terão todas as minas sido levantadas antes do regresso das caravelas? E os itinerários terão sido desarmadilhados? Não me parece.

Depois da independência, o governo da RPAngola teve cidades sitiadas durante muitos anos, só acessíveis por ar (Menongue, Huambo, Lubango, Kuito, Luena, para não me alongar) em torno das quais os sitiados instalaram campos de minas.

Quando a Unita começou a cortar periòdicamente a energia eléctrica a Luanda derrubando postes de alta tensão (o que valeu a Savimbi a alcunha de “Robin dos postes”), estes passaram a ser protegidos por campos de minas. Acha o sr BM que estes campos de minas foram todos levantados?

2. No Afeganistão, não percebo como é que o Sr BM vê a mão americana e não vislumbra a soviética. Os mujahedines eram apoiados pelos states, e as suas acções eram predominantemente de ataque às colunas dos soviéticos (que invadiram o país e nele se atolaram). Com o evoluir da situação, passaram a sitiar destacamentos militares e cidades, em torno dos quais os sitiados instalavam campos de minas (mais que seguramente fornecidas pelos seus apoiantes soviéticos).

Após a saída dos sóvias, em 1989, a situação não se alterou significativamente, continuando os rebeldes as acções de guerrilha, com as forças governamentais na defensiva. Ora os campos de minas são usados, por via de regra, pelos sitiados para deter o avanço dos sitiantes. Com a derrota de Najibulah em 1992, e a tomada do poder pelos rebeldes, será que todos os campos de minas foram localizados e desactivados?

3. No Vietname, dou-lhe razão. Parece que os americanos não só deixaram minados os arredores dos suas bases, como deixaram parte dos solos contaminados com dioxinas (do agente laranja) e outros que tais.

4. Quanto à bucólica Jugoslávia a que se refere, parece-me redutor acusar alemães, amigos dos “velhos nazistas croácios” (sic), de terem lançado uma campanha para a destruir. A paz em que a Jugoslávia vivia há décadas era o que se pode chamar uma paz podre: um só chefe, o marechal Tito, um só partido, o comunista, um só país, a Jugoslávia. Tito morreu, e imediatamente as tendências centrífugas prevaleceram sobre os devaneios do marechal. Afinal os sérvios, croatas, bósnios, albaneses do Kosovo, eslovenos, montenegrinos pouco têm em comum (língua? religião?...) que justificasse a continuação da Jugoslávia.

A resistência contra o invasor alemão, principal cimento da união no pós guerra já só é lembrada pelos avôs: para os netos já só se lembram de quem lhes matou o irmão, o amigo, a namorada. O resto, é treta.

Esta ideia do Sr BM de imputar responsabilidades a um país grande, poderoso e perverso que puxa os cordelinhos dos seus fantoches, faz-me lembrar os tempos gloriosos da minha juventude em que tudo era explicado em termos de russos ou americanos.

Que diabo, que tal responsabilizar pela guerra na Jugoslávia os sérvios, os croatas e bósnios? Serão eles ovelhinhas inocentes (verdadeiros agnus dei) que só dão tiros e lançam bomblets porque há uns malandros estrangeiros que lhos vendem?

E para além dos chefes militares e políticos, que tal responsabilizar também a população, que fàcilmente vai atrás de ideias mobilizadoras do tipo “fora com os muçulmanos!”, “fora com os cristãos!”, “os sérvios é que têm a culpa disto!”, “morte aos pretos!”, “morte aos skins!”, “morte aos judeus!”, e que passa ràpidamente da palavra ao murro e do murro ao tiro?

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