Sr Director (PÚBLICO):
Assisti esta noite ao primeiro de uma série de programas sobre a carreira de Pedro Caldeira como corretor e figura de proa da Bolsa de Valores de Lisboa. Iniciando-se o julgamento amanhã, ou seja, um dia depois do início desta série, não posso deixar de pensar que a mediatização do julgamento é um dado adquirido, e que as alegações do réu (hoje ainda arguido) começaram fora do tribunal, pela mão amiga da SIC.
O episódio desta noite, se bem percebi o enredo, mostra-nos que o escritório do corretor não conseguiu acompanhar a avalanche de clientes que o solicitavam e que representavam 50% do mercado. A desordem era total, a casa forte estava a abarrotar, os computadores “rebentaram”, os títulos amontoavam-se um pouco por toda a parte, havia clientes a quem a casa pagava mais do que lhes era devido, ou a quem emitia ordens de pagamento em duplicado. Felizmente alguns eram sérios e não aceitavam o bónus...
Até que o Último Corretor, um belo dia, deu com um pintor a usar papéis valiosos para proteger os degraus da escada, à mistura com jornais velhos. Concluiu que a coisa não podia continuar. Queria fechar, mas o Governador do Banco de Portugal exortou-o a continuar como pudesse, pois, se o não fizesse, seria responsável por uma desgraça do tamanho da queda da Bolsa. E ele continuou (antes o não tivesse feito!).
Pedro Caldeira lança inocentemente a ideia de que, no meio daquela confusão toda, muita gente terá recebido a dobrar (ou a triplicar, quem sabe), muito visitante, para já não falar nos pintores, se terá abotoado en passant com papéis valiosos, de modo que, tudo somado, chegou-se a um saldo devedor de dois milhões de contos. E ele que dava 10% dos lucros às obras de caridade para crianças vê-se agora injustamente acusado. Se for preso, paciência, acrescenta, é a vontade de Deus.
Esta teoria é verosímil só que, longe de o ilibar, sugere uma forma de apropriação directa de títulos que pode ter sido usada por visitantes e funcionários, mas também pelo próprio Pedro Caldeira (no meio da bagunça, não é verdade?) que desse modo poderia colmatar a diferença (o gap, para ser mais fino) entre os seus proventos e os gastos para manter o padrão de vida que levava.
E é manifesto, não obstante as boas comissões auferidas, que o corretor vivia nitidamente acima das suas posses. O julgamento esclarecer-nos-á se utilizava (tomava emprestado, como se diz no Brasil), no todo ou em parte, o dinheiro que lhe era entregue para investir, se sacava da firma a título de dividendos antecipados, ou se tinha métodos mais inovadores.
Assisti esta noite ao primeiro de uma série de programas sobre a carreira de Pedro Caldeira como corretor e figura de proa da Bolsa de Valores de Lisboa. Iniciando-se o julgamento amanhã, ou seja, um dia depois do início desta série, não posso deixar de pensar que a mediatização do julgamento é um dado adquirido, e que as alegações do réu (hoje ainda arguido) começaram fora do tribunal, pela mão amiga da SIC.
O episódio desta noite, se bem percebi o enredo, mostra-nos que o escritório do corretor não conseguiu acompanhar a avalanche de clientes que o solicitavam e que representavam 50% do mercado. A desordem era total, a casa forte estava a abarrotar, os computadores “rebentaram”, os títulos amontoavam-se um pouco por toda a parte, havia clientes a quem a casa pagava mais do que lhes era devido, ou a quem emitia ordens de pagamento em duplicado. Felizmente alguns eram sérios e não aceitavam o bónus...
Até que o Último Corretor, um belo dia, deu com um pintor a usar papéis valiosos para proteger os degraus da escada, à mistura com jornais velhos. Concluiu que a coisa não podia continuar. Queria fechar, mas o Governador do Banco de Portugal exortou-o a continuar como pudesse, pois, se o não fizesse, seria responsável por uma desgraça do tamanho da queda da Bolsa. E ele continuou (antes o não tivesse feito!).
Pedro Caldeira lança inocentemente a ideia de que, no meio daquela confusão toda, muita gente terá recebido a dobrar (ou a triplicar, quem sabe), muito visitante, para já não falar nos pintores, se terá abotoado en passant com papéis valiosos, de modo que, tudo somado, chegou-se a um saldo devedor de dois milhões de contos. E ele que dava 10% dos lucros às obras de caridade para crianças vê-se agora injustamente acusado. Se for preso, paciência, acrescenta, é a vontade de Deus.
Esta teoria é verosímil só que, longe de o ilibar, sugere uma forma de apropriação directa de títulos que pode ter sido usada por visitantes e funcionários, mas também pelo próprio Pedro Caldeira (no meio da bagunça, não é verdade?) que desse modo poderia colmatar a diferença (o gap, para ser mais fino) entre os seus proventos e os gastos para manter o padrão de vida que levava.
E é manifesto, não obstante as boas comissões auferidas, que o corretor vivia nitidamente acima das suas posses. O julgamento esclarecer-nos-á se utilizava (tomava emprestado, como se diz no Brasil), no todo ou em parte, o dinheiro que lhe era entregue para investir, se sacava da firma a título de dividendos antecipados, ou se tinha métodos mais inovadores.
A ver vamos.
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