Ao Notícias Magazine - “Faça-se ouvir”
O número do passado domingo inclui uma carta da D. Isabel Immig, do Porto. A Senhora tece considerações sobre o vício do cigarro, que provoca danos ao fumador, às pessoas que o rodeiam, às plantas, à natureza. O equilíbrio entre o universo saudável e o universo cósmico é destruído, segundo a D. Immig, e as consequências serão, certamente, tramadas (digo eu).
Fiquei a saber que o nosso corpo (o tal universo saudável, segundo a D. Immig) comporta, em exclusivo, um universo infinito, físico, espiritual cuja pureza e harmonia com o universo cósmico anda a ser destruída pelos fumadores.
Grandes malandros!
Tal como a D. Immig (raio de nome!) também eu fui fumador, durante muito tempo, até há cerca de 15 anos. Só que a D. Immig, passou a ser uma inimiga jurada do tabagismo e dos seus seguidores, capaz de ver neles autênticos criminosos, destruidores da natureza e da harmonia entre os vários universos, e eu não.
Este fundamentalismo, muito semelhante ao dos mullahs, encontra seguidores fanáticos nos países neo-bárbaros (incluo, claro, os States), cujas elites estão cada vez mais escravizadas pelas ideias politicamente correctas (bastante tolas, as mais das vezes).
Neles, o clima de perseguição ao fumador está a atingir os limites do absurdo.
Cidades inteiras constituiram-se em espaços cigarette free (tal como, nos anos 70, a nossa bacoca e vermelha Almada livre de armas nucleares), com vizinhos a denunciarem vizinhos à mínima baforada suspeita.
Infelizmente, o nosso jardim à beira mar plantado continua a servir de pasto a certas gentes bacocas e provincianas, ávidas de copiar “o que se faz lá fora”, para evitar que continuemos “atrasados” e culturalmente indigentes.
Para tais pessoas o casal Clinton é um modelo a seguir, até porque parece que o Bill, que nos seus tempos de estudante fumou boi mas não inalou (podia?!), é um bocadinho mais culto que o saudoso vice Dan Quayle (a esse genuíno e despretensioso pobre de espírito, ao menos, nunca passaria pela cabeça a ideia de fumar sem inalar, e esperar que alguém acreditasse).
Parece-me necessário evitar colagens fáceis a maus profetas e encarar os vícios, próprios e alheios, sem exaltações nem dramatismos, e, acima de tudo, sem perder de vista os vestígios de livre arbítrio que ainda nos restam. Que se proíba o fumo em locais públicos fechados (transportes públicos, escritórios, cinemas, etc), tudo bem. Mas se essa proibição se estender a locais ao ar livre, a bares e restaurantes (devidamente assinalados), a casas e viaturas particulares, estaremos a cercear liberdades individuais sem que se perceba quais as contrapartidas para o todo social.
A luta contra a droga está em vias de ser perdida porque uma parte significativa das forças disponíveis (e do espaço prisional) está ocupada a reprimir os consumidores, em vez de combater os traficantes. Esta nova frente anti-tabaco não será, porventura, inspirada por quem tem interesse em dispersar ainda mais os efectivos das polícias, e a quem sobra dinheiro para o conseguir?
Proibir o consumo de álcool nos States (esse modelo de puritanismo sacrista) deu, a seu tempo, o resultado que deu; restringir o consumo de tabaco (e criminalizá-lo, em certas condições) não pode deixar de ter resultados semelhantes.
A Mafia agradece este novo e chorudo negócio que o ingénuo (não será intencional?...) Bill lhe quer proporcionar.
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