Para os portugueses, os tempos dourados da África romântica, das pescarias na Barra do Dande (ou simplesmente na baía do Mussulo), das caçadas, dos safaris às terras do fim do mundo, intervalados pelos seis meses de licenças graciosas na santa terrinha, esses tempos estavam condenados, muito em breve, a não serem mais que uma doce recordação.
O nosso regresso coincidiu com uma viagem do Almirante Tomás ao Ultramar, na qualidade de Presidente da República.
O Venerando Chefe de Estado (chavão com que habitualmente a imprensa da época o designava) regressava a Lisboa no paquete Infante D. Henrique e, para não se expor a chatices e acidentes, fazia-se acompanhar quase só de polícias, Pides e militares em fim de comissão (com as respectivas famílias).
Para além do folclore aquático em Luanda e S. Tomé, onde fizemos escala, a viagem não teve motivos especiais de interesse. O folclore a que me refiro consistiu num desfile de barcos de todo o tipo que coalhavam o mar junto do Infante D. Henrique, atestando o portuguesismo das gentes daquelas províncias que, sendo ultramarinas, pediam meças em portuguesismo às Beiras ou ao próprio Minho, berço da nacionalidade (como diria a inspirada imprensa da época).
Naqueles tempos, à falta de melhor sufrágio, eram as manifestações, espontâneas ou não, que davam ao governante a sensação de ser amado pelo seu povo. A este não era, pois, necessário perguntar o que queria, e muito menos deixá-lo responder colocando uma anónima cruzinha num papel cuidadosamente dobrado e logo metido numa caixa, onde se misturaria com outros iguais...
E assim, de manifestação em manifestação, hoje carregado em ombros pelas quitandeiras de Angola (foto ao lado) amanhã aclamado pelos pescadores da Nazaré, o nosso Venerando Presidente acabou deposto, quando tanto havia ainda a esperar dele[1]. Oiçam aqui a voz do cromo.
NOTAS:
[1] Pelo menos, em broncas e gafes. Enternece o coração mais empedernido lembrar o Almirante Tomás a discursar em Santarém, uma linda cidade que não sendo grande, era das maiores entre as mais pequenas, ou a célebre tirada das barragens, qualquer coisa como: venho hoje inargurar a n ésima barragem… desculpem, a n ésima primeira; bem, o Presidente não deve pedir desculpa, por isso, peço desculpa por ter pedido desculpa. (fabuloso!!!)
A guerra não era para acabar, mas sim para ser alimentada...Eu só peço desculpa, pelas desculpas esfarrapadas utilizadas...
ResponderEliminarRéjo Marpa