sábado, 9 de maio de 2009

OPINIÃO 95-96 - Vígaro Cá, Vígaro Lá II



Sr Director (Público):

A SIC presenteou-nos esta noite com uma presença especial, há muito anunciada, no seu bloco de notícias da hora do jantar. Nem mais nem menos que o regressado Pedro Caldeira!

O homem é de facto encantador, assumiu uma pose despretensiosa, falou dos valores que sempre foram os seus, e que se mantêm, e do seu amor à liberdade, revalorizado depois de dela ter estado privado.

Mostrou-se um empresário e cidadão exemplar, gerando riqueza (mais de um bilião de contos) e pagando os seus impostos (deve ser, alvitrou, o maior contribuinte individual que o país tem - ou teve).

O Alberto de Carvalho mostrou-se amável, em certas alturas quase reverencial (afinal não estava a entrevistar um escroque, mas um cidadão exemplar!), e ficámos a saber que no julgamento teremos a surpresa de constatar que afinal as coisas não são bem como se pensa.

Por exemplo, Pedro Caldeira adianta que os clientes que perderam as quantias que investiram (ou que entregaram para que fossem investidas) não se sentem logrados (terão tido azar, suponho) e alguns continuam seus amigos (“amigos para sempre”, imagino).

Pedro Caldeira não falou, nem lhe foi perguntado, como é que o corrector de sucesso (o número um, foi várias vezes afirmado) vivia nìtidamente acima das suas posses (nos leilões de arte a sua esposa era presença assídua e licitante), acumulando dívidas pessoais (e da empresa) que ascendiam a várias centenas de milhar de contos, chegando a uma situação de insolvência que obrigou a penhoras das suas casas (entretanto prudentemente despojadas do recheio) e culminou na sua saída estratégica de cena.

O que se verá no julgamento, e isso é que é fundamental, é se Pedro Caldeira vivia à grande da solicitude benévola dos seus clientes e amigos, ou se o fazia à custa de parte das quantias que lhe eram entregues para serem investidas, que afinal eram desviadas para custear as suas despesas pessoais (o que é crime) e a manutenção de um nível de vida superior, repito, às suas posses.

O ar educado, elegante, bem falante e aperaltado que Pedro Caldeira exibiu na SIC não nos deve, afinal, surpreender. Já o poeta Aleixo tinha uma explicação óbvia para isso...

[1]

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NOTAS:

[1] Recordo:
“Quem rouba não pode andar mal vestido, esfarrapado
Tem que andar aperaltado p’rós incautos enganar...”

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