Sr Director (Público):
Acompanhei desde o início da noite de ontem os noticiários sobre o acidente que vitimou três jovens praças e feriu outros seis, entre portugueses e italianos. Do que se noticiou e do que várias pessoas, militares e civis, disseram sobre o assunto, ficaram-me duas dúvidas por esclarecer:
1. Onde estavam os oficiais?
2. Aqueles militares tiveram instrução sobre o que fazer perante um engenho explosivo não detonado? (estariam, sequer, informados da existência de tais objectos?)
Começando pela segunda dúvida, parece-me que a tropa não foi convenientemente instruída de que a missão de paz comporta riscos (não é um pic nic, como pensaram os americanos no início da aventura na Somália), de que há uma guerra que está apenas suspensa, que a área onde vão actuar poderá estar minada, armadilhada ou que simplesmente alguns dos engenhos explosivos provenientes de bombardeamentos poderão não ter explodido.
Nestes casos, o que é habitual fazer (não falo de “ouvir dizer”: estive nove anos na tropa, com uma comissão no mato em Angola, a comandar um pelotão de sapadores) é assinalar o “achado”, isolar a zona e chamar o graduado, a quem competiria tomar uma decisão: chamar os sapadores, destruir o engenho no local, desarmá-lo (e o oficial não mandaria o cabo fazê-lo, muito menos numa caserna com mais pessoas...) ou simplesmente declará-lo inócuo.
Apanhar o engenho e trazê-lo para a caserna é perfeitamente impensável para uma tropa a quem foi ministrada uma instrução adequada (é óbvio de que o não foi, no caso vertente).
Quanto à ausência de oficiais em todo este caso, parece-me extremamente preocupante: os militares, além de mal instruídos, parecem estar entregues a si próprios a ponto de manusearem um objecto potencialmente perigoso sem primeiro procurarem o seu oficial (o comandante de pelotão ainda estaria em Lisboa? ou em Split? teria saído após o “toque de ordem”? ou será, simplesmente, um personagem distante, que o soldadinho nem se lembra de consultar?...).
Registo com extremo desagrado as palavras do Brigadeiro François Martins que, ao que percebi, aventou a possibilidade de incompetência das vítimas no manuseio do engenho, esquecendo-se de referir a incompetência de quem as instruiu tão mal. Naturalmente que não concordo com o Sr Brigadeiro quando, num tom quase folgazão, diz que isto podia ter acontecido em qualquer sítio, não tendo relação directa com a presente missão.
Ao ouvi-lo discorrer ex-cátedra, na sua qualidade de “especialista em estratégia e defesa”, tive saudades do Dr Sousa Tavares (Pai, na foto) quando, alguns anos atrás, se encarniçava com desassombro contra os generais sentados à manjedoura do orçamento geral do estado, etc, etc, etc...
Acompanhei desde o início da noite de ontem os noticiários sobre o acidente que vitimou três jovens praças e feriu outros seis, entre portugueses e italianos. Do que se noticiou e do que várias pessoas, militares e civis, disseram sobre o assunto, ficaram-me duas dúvidas por esclarecer:
1. Onde estavam os oficiais?
2. Aqueles militares tiveram instrução sobre o que fazer perante um engenho explosivo não detonado? (estariam, sequer, informados da existência de tais objectos?)
Começando pela segunda dúvida, parece-me que a tropa não foi convenientemente instruída de que a missão de paz comporta riscos (não é um pic nic, como pensaram os americanos no início da aventura na Somália), de que há uma guerra que está apenas suspensa, que a área onde vão actuar poderá estar minada, armadilhada ou que simplesmente alguns dos engenhos explosivos provenientes de bombardeamentos poderão não ter explodido.
Nestes casos, o que é habitual fazer (não falo de “ouvir dizer”: estive nove anos na tropa, com uma comissão no mato em Angola, a comandar um pelotão de sapadores) é assinalar o “achado”, isolar a zona e chamar o graduado, a quem competiria tomar uma decisão: chamar os sapadores, destruir o engenho no local, desarmá-lo (e o oficial não mandaria o cabo fazê-lo, muito menos numa caserna com mais pessoas...) ou simplesmente declará-lo inócuo.
Apanhar o engenho e trazê-lo para a caserna é perfeitamente impensável para uma tropa a quem foi ministrada uma instrução adequada (é óbvio de que o não foi, no caso vertente).
Quanto à ausência de oficiais em todo este caso, parece-me extremamente preocupante: os militares, além de mal instruídos, parecem estar entregues a si próprios a ponto de manusearem um objecto potencialmente perigoso sem primeiro procurarem o seu oficial (o comandante de pelotão ainda estaria em Lisboa? ou em Split? teria saído após o “toque de ordem”? ou será, simplesmente, um personagem distante, que o soldadinho nem se lembra de consultar?...).
Registo com extremo desagrado as palavras do Brigadeiro François Martins que, ao que percebi, aventou a possibilidade de incompetência das vítimas no manuseio do engenho, esquecendo-se de referir a incompetência de quem as instruiu tão mal. Naturalmente que não concordo com o Sr Brigadeiro quando, num tom quase folgazão, diz que isto podia ter acontecido em qualquer sítio, não tendo relação directa com a presente missão.
Ao ouvi-lo discorrer ex-cátedra, na sua qualidade de “especialista em estratégia e defesa”, tive saudades do Dr Sousa Tavares (Pai, na foto) quando, alguns anos atrás, se encarniçava com desassombro contra os generais sentados à manjedoura do orçamento geral do estado, etc, etc, etc...
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