segunda-feira, 1 de junho de 2009

OPINIÃO 95-96 - Rabinos e Teimosos


Sr Director (Independente):

Não tenho o prazer de conhecer nenhum muçulmano defensor do estabelecimento da república islâmica (fundamentalista ou não, xiita ou sunita) que me faça compreender as razões (ou mesmo as vantagens) por que o Estado e as instituições religiosas devem fundir-se (ou confundir-se). Mais precisamente, por que é que a religião com os seus ministros, os seus mandamentos, as suas fatwas deve orientar não só as almas dos crentes (o que me parece pacífico, já que eles são crentes), como dominar todos os seus actos, os seus pensamentos, numa palavra, toda a sua vida.

A separação clara entre as esferas espiritual e temporal (a César o que é de César ...) parece-me tão evidente e necessária que as religiões-de-Estado e os estados-Religião me surgem como aberrações (autênticas abominações) potenciadoras de toda a sorte de violências e arbitrariedades sobre as pessoas, perpetradas por uma padralhada ignara e amoral, cada vez menos ligada às coisas do espírito, preocupada mais e mais em manter o seu domínio absoluto sobre a sociedade.

Poderia muito bem estar a falar do país dos mullahs. Na realidade estou a falar de Israel, ou mais precisamente a um aspecto “retorcido” do poder temporal da religião judaica (da lei judaica) sobre os seus fiéis: morreu no mês passado um tal Yehia Avraham cujos últimos 32 anos foram passados à sombra, por decisão do tribunal rabínico. Não matou, não roubou, não violou: não acatou.

O bom do Yehia recusou, no longínquo ano de 1949, o divórcio pretendido pela sua senhora. Esta recorreu à sinagoga que deliberou a seu favor. Só que o tribunal dos rabinos não pode impor aos conjuges o divórcio: por muita razão que considere assistir à mulher, o divórcio tem que ter o acordo do marido.

O tribunal pode, contudo, fazer uma forcinha para levar os maridos renitentes a dar o divórcio às suas futuras Ex's: pode mandá-los prender!


Como o Yehia era teimoso que nem uma mula, o poder do tribunal rabínico correspondeu a uma autêntica pena de prisão perpétua.

É claro que Israel é um país civilizado, onde, desde que não se tenha a religião errada, até se vive bem e em relativa liberdade. Contudo, o caso do Yehia e da sua teimosia extremada faz-me pensar que talvez o Estado democrático lá do sítio o seja dentro de limites um tanto estreitos.

Para além deles, a lei judaica prepondera. E pesa demais.

Pelo menos, para o meu gosto.

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