Sr José Sousa N’jamba:
Junto envio a carta que escrevi há dias ao Independente. Não a vi publicada, pelo que fico na dúvida se o Indy acha que o Sr U Thant era branco ou se a pessoa que leu o fax (meio que usei para enviar a carta) sabe sequer quem foi o referido senhor. Na dúvida, cesto dos papéis com ele!
Como o Sr Sousa N’jamba (deixe-me usar o seu verdadeiro nome, já que a versão aportuguesada lhe deve pesar um tanto) é uma pessoa culta, estou certo de que só por distracção escreveu que o Sr Butros Ghali é o primeiro não branco a estar à frente da ONU. Está feita a chamada de atenção; caso queira, poderá fazer a correcção que entender.
Repare que considero esta questão de interesse muito reduzido, pois sendo a ONU integrada pela quase totalidade dos países do mundo, estranho seria que o cargo de secretário geral (ou outro qualquer) fosse reservado a brancos, ou a africanos, ou a asiáticos. E sobre brancos e não brancos, estamos conversados!
A propósito de versões aportuguesadas de nomes angolanos, permita-me que lhe conte a seguinte história que se passou comigo:
Em 1976, quando entrei para a TAAG (DTA até pouco antes) havia um contínuo no meu sector que se chamava Colombo. Um belo dia, chegou ao serviço, entrou-me no gabinete e disse-me com um ar todo satisfeito:
“Camarada [1] engenheiro, eu agora chamo-me Calombe, já não me chamo Colombo”.
Perguntando-lhe eu por quê essa mudança, contou-me que quando o pai o foi registar ao Chefe de Posto e disse que o nome da criança era Calombe, o Tuga teria respondido qualquer coisa como “Qual Calombe, qual carapuça! o nome certo é Colombo, porra! e fica mesmo Colombo!”. É claro que não havia nada a fazer.
O Calombe carregou quase 40 anos com um nome que não era o seu até que a dipanda [2] lhe permitiu, finalmente, deixar de usar o nome tuga e passar a usar o seu. Por isso estava tão satisfeito.
E não o maço mais. Apresenta-lhe os melhores cumprimentos este leitor assíduo (e, como vê, atento) dos seus escritos.
. . . . .
NOTAS:
[1] Compreenderá que naquele tempo até os americanos da Boeing que por lá andavam eram tratados por camarada, e aceitavam o tratamento com toda a naturalidade. O termo era tão omnipresente, que um “popular” ao narrar um acidente ao repórter da televisão estatal dizia, a alturas tantas “... depois, a camarada IFA embateu na casa...”. Os IFA eram camiões made in RDA, do melhor que a Europa de leste produzia, in illo tempore.
[2] Independência.
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