Sr Director (Independente):
Com a iminente saída de cena do Prof Cavaco Silva, esboçaram-se já duas linhas de acção típicas nestas situações: a linha de unidade e a da clarificação política.
A primeira apelará para a coesão em torno de um leader alternativo (o nº 2 na linha hierárquica), esquecendo diferenças de opinião, divergências de interesses, ambições individuais, para manter o poder ou uma fatia dele. É uma linha fortemente castradora do debate político, toda ela dirigida ao apaziguamento interno e à criação de uma imagem para o exterior de unidade em torno das ideias que o partido sempre defendeu (aí entrará a referência a Sá Carneiro, de cujas ideias o delfim se reafirmará continuador). A figura de proa terá forçosamente que ser cinzenta (quem melhor do que Fernando Nogueira para este papel?), eventualmente secundado por um grupo de notáveis que lhe darão credibilidade externa e suporte interno.
A segunda apelará para o primado do debate político e da clarificação estratégica (aqui caberá a necessária referência a Sá Carneiro, porventura mais legítima que a da linha da unidade), deixando para segundo plano a manutenção da fatia do poder. Esta linha é a que apresenta maiores potencialidades. Dela poderão emergir um conjunto de ideias amplamente consensuais fazendo tábua rasa do ideário cavaquista e (com a sorte a ajudar) um leader capaz de as explicar e defender ao eleitorado. Com muita sorte, poderá emergir um leader com carisma (o que permitiria compensar uma eventual menor riqueza das ideias).
O jantar da FIL da passada terça feira, com apelos à unidade em torno de Cavaco Silva e à sua permanência à frente do partido, é o prenúncio da linha da unidade. O apelo é fàcilmente transponível do Chefe para Fernando Nogueira, desde que manter o poder a todo o custo seja o objectivo central.
A saída de Santana Lopes do Governo é, claramente, a preparação da segunda linha. O czar da kultura, como já lhe ouvi chamar, foi fiel à posição que assumiu no congresso da Figueira da Foz mantendo-se ao lado de Cavaco; com a saída anunciada deste, nada o compromete com o senhor que se segue. O debate político (sem excluir a crítica ao que foi a era Cavaco) terá que ser reactivado, o que não será fácil após quase dez anos de paragem quase total.
Suspeito que, a curto prazo, a linha cinzenta conseguirá impor-se e levará o partido a uma estrondosa derrota (Fernando Nogueira deveria pensar no que aconteceu ao Dr Almeida Santos, já lá vai um bom par de anos, durante uma curta passagem pela liderança do PS). Talvez após essa derrota o partido renasça, floresça em novos valores, em novas pessoas, em novas ideias (por que não?); a cada militante será pedido (exigido?) que tenha ideias, que as exponha e discuta.
Não será isso essencial num partido político?
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